Textos de Bernardo

berlim

creio-me conjurando
magos de frágeis crenças
na mesa
ou foto
pontos distantes
perdidos
fora de foco

sigo reivindicando
todas minhas ausências
de lar,
de cá
de uma vaga ideia
do que tenha sido
um dia
lugar

amañanarse

verbo intransitivo

  reflexivo o reflejado,
  me encontro
  num par de olhos cerrados

ou que também significa

  llenarse de manha
  principalmente
  por las mañanas

grullas

ignorando o chão
  mirávamos
sempre para cima
  a apostar
até também nos tornarmos
resíduos de querosene

pálidas cicatrizes brancas
  um corte no azul
    dois cortes
  um novo tipo de céu
      afetado
por futuros
      até então
            ignorados

        pisco

quebro um dedo
perco um dente
rasgo um talo
e a vida passa

teimosa e graciosa
como um par ou
um casal de garças

    plainando

por todo o resto
do que sobrou ou
daquilo que creem ver

sublimação

um lago
um canal
ou um rio
todos podem
congelar

mas o coração
a despeito
do frio
queima, arde
evapora o mar

golpes sobre bigornas

a névoa espessa sobra
da frágua que fui
a forjar novas armas
anêmicas

potências de amor
ou então só morte
em mãos de crianças
maníacas

quão cortantes são as últimas frases?
como afiar as novas primeiras?
eis o fardo de um ferreiro

além do calor:
abster-se da culpa,
das incongruências
e consequências
benzidas no vapor