Textos de Julio

Uma noite na Boa viagem

Muitas vezes paro pra ver
que na verdade
não gosto de pessoas
apenas gosto do que elas me fazem sentir

E que neste querer
há sempre morte,
No desejo de viver novamente o passado

Pois que o novo nunca tem petição,
é algo dado que não tem remetente

Eu sei hoje que pensava gostar de alguém,
de uma menina mulher,
de cafés, cervejas e cigarros
e de um dia especial frente ao mar

Na verdade
ainda gosto de cafés, cervejas e cigarros
porém da menina,
só posso dizer que ainda gosto do mar

The Helba Song

Aqui estou nesta ilha
longe de quem me ama
e perto de quem me quis

Desde o começo sempre estive só
não há novidade para mim aqui
Não há utero que consiga parir novamente o que senti um dia

Todos os sentimentos morreram em nome da verdade

O animal está domesticado novamente
até que a noite caia mais uma vez,
e a besta se erga para trazer um novo deleite
e com ela uma nova queda

Meus navios seguirão por mares tempestuosos
perfurarão mil ondas como colossos se erguendo na madrugada
meus homens perecerão em meu nome,
e eu marcharei novamente sobre sob a mesma terra que pisei um dia,
pois ainda sou quem dá nome às coisas,
e delas nada temo

Eu
estou no branco
com a coroa por vir

Eu
Nada temo

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Caminhar

Não quero saber quem sou

Só preciso caminhar,
caminhar, caminhar e caminhar

Irei de cidade em cidade
Em um andar sem pensar
sem falar ou me comunicar

Quero caminhar

Caminhar em quanto a consciência não volta

Sem rumo eu quero caminhar

Vou aonde algo me faz ir
um lugar que é aqui e ao mesmo tempo se faz longe de mim
um lugar onde a fé cria expectativa
de ser o repouso ou união

E se um dia eu lá chegar
ou antes minha consciência voltar

Saberei mais uma vez
que de nada adianta perguntar
pois as perguntas são pedras nas águas que correm

Perguntas não levam a nada,
é só medo,
medo de saber ser
um pote sem fundo

A marcha de lilith

Meus filhos são os abortos que nasceram dos homens
pois meu ventre não é mangedoura nem berço para crianças
eu quero que todos saibam e me possuam
pois ninguém é dono de mim
eu sou a filha da dispersão e a mãe da angústia
a todos dou minha beleza mas a nenhum dou meu amor
e quero ser assim por todos os aeons que virem
serei eu abusada por todos os homens por todos meus orificios
pois eu sou hoje aquilo que não terás amanhã,
a bela jovem senhora do desespero
aquela que traz a paz para depois tirar
o engano no caminho daquele que busca seu pai no meio da noite
eu sou quem anuncia a coruja e o reencontro com o sol

La Catrina

eu não gosto mais de voce
eu gosto de um fantasma
que suga minha alma todos os dias
que me faz fumar mais do que o normal
que me faz beber e passar mal
que me faz buscar deus mais uma vez

eu não gosto mais de voce
e ao mesmo tempo te quero
sabendo que não é mais quem eu penso,
é alguem que eu conheci um dia
é alguem que eu conheci a noite em uma praia vazia
é alguem que eu conheci e agora é memória

Não mais nesta encarnação
nos veremos novamente
nos mesmos gestos
nos mesmos cafés,
nos mesmos lugares onde passamos
ao mesmo tempo eles estão empregnados pela sua imagem
maldito fantasma que eu amo