Muitas vezes paro pra ver
que na verdade
não gosto de pessoas
apenas gosto do que elas me fazem sentir
E que neste querer
há sempre morte,
No desejo de viver novamente o passado
Pois que o novo nunca tem petição,
é algo dado que não tem remetente
Eu sei hoje que pensava gostar de alguém,
de uma menina mulher,
de cafés, cervejas e cigarros
e de um dia especial frente ao mar
Na verdade
ainda gosto de cafés, cervejas e cigarros
porém da menina,
só posso dizer que ainda gosto do mar
Aqui estou nesta ilha
longe de quem me ama
e perto de quem me quis
Desde o começo sempre estive só
não há novidade para mim aqui
Não há utero que consiga parir novamente o que senti um dia
Todos os sentimentos morreram em nome da verdade
O animal está domesticado novamente
até que a noite caia mais uma vez,
e a besta se erga para trazer um novo deleite
e com ela uma nova queda
Meus navios seguirão por mares tempestuosos
perfurarão mil ondas como colossos se erguendo na madrugada
meus homens perecerão em meu nome,
e eu marcharei novamente sobre sob a mesma terra que pisei um dia,
pois ainda sou quem dá nome às coisas,
e delas nada temo
Eu
estou no branco
com a coroa por vir
Eu
Nada temo
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Não quero saber quem sou
Só preciso caminhar,
caminhar, caminhar e caminhar
Irei de cidade em cidade
Em um andar sem pensar
sem falar ou me comunicar
Quero caminhar
Caminhar em quanto a consciência não volta
Sem rumo eu quero caminhar
Vou aonde algo me faz ir
um lugar que é aqui e ao mesmo tempo se faz longe de mim
um lugar onde a fé cria expectativa
de ser o repouso ou união
E se um dia eu lá chegar
ou antes minha consciência voltar
Saberei mais uma vez
que de nada adianta perguntar
pois as perguntas são pedras nas águas que correm
Perguntas não levam a nada,
é só medo,
medo de saber ser
um pote sem fundo
Meus filhos são os abortos que nasceram dos homens
pois meu ventre não é mangedoura nem berço para crianças
eu quero que todos saibam e me possuam
pois ninguém é dono de mim
eu sou a filha da dispersão e a mãe da angústia
a todos dou minha beleza mas a nenhum dou meu amor
e quero ser assim por todos os aeons que virem
serei eu abusada por todos os homens por todos meus orificios
pois eu sou hoje aquilo que não terás amanhã,
a bela jovem senhora do desespero
aquela que traz a paz para depois tirar
o engano no caminho daquele que busca seu pai no meio da noite
eu sou quem anuncia a coruja e o reencontro com o sol
eu não gosto mais de voce
eu gosto de um fantasma
que suga minha alma todos os dias
que me faz fumar mais do que o normal
que me faz beber e passar mal
que me faz buscar deus mais uma vez
eu não gosto mais de voce
e ao mesmo tempo te quero
sabendo que não é mais quem eu penso,
é alguem que eu conheci um dia
é alguem que eu conheci a noite em uma praia vazia
é alguem que eu conheci e agora é memória
Não mais nesta encarnação
nos veremos novamente
nos mesmos gestos
nos mesmos cafés,
nos mesmos lugares onde passamos
ao mesmo tempo eles estão empregnados pela sua imagem
maldito fantasma que eu amo