<

O resumo

Finda-se agora uma era, vivida em três meses. Termino como a iniciei. Com a chuva que ninguém vê. Deitada numa cadeira de sol, livro no colo e celular protegido. Sob mim, a água que ninguém mais sentiu. A cada pingo, uma tatuagem. A gota correndo sobre a coxa, a água limpando a maquiagem e grudando a roupa ao corpo. A brasa, tal como magia, permaneceu acesa. As palavras do livro vazaram, eis ai toda a poesia como deveria: escorrendo pela pele. Insisti nos vícios e quando o frio veio, uma nova música se inicou, mais palavras, agora também no ar. Repeti como uma oração. "In fact I can't stop falling out. I miss that stupid ache".
Fechei os olhos e revivi tudo aquilo que me repartiu nos últimos meses. Todas as cidades aonde estive, todos os perfumes sentidos e quartos frios chamados inconscientemente de casa. Nada disso me preenche como deve, mas somado, ah, que história! Quantos anti-heróis dignos dos roteiros mais ambíguos. O gringo errante, o maranhense enfadado e o paraense constantemente atrasado. A moça de Macapá, os companheiros de trabalho, os amigos distantes, os romances mal findados. Os chocolates deixados na porta do quarto, o bilhete misterioso na recepção e o beijo recebido naquela mesma cadeira de sol. Nenhum deles preenche, mas já são minha história. E ah, que história...

>
<
>