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sem misericórdia

todas as mulheres da minha vida
foram assassinadas
por mandatos imperiais

das sobras dos seus corpos
renasceram outras mulheres
de véus livres
e faces desconhecidas
com sede, não de vingança,
mas de revolução

marcharam pela seca zona morta
onde aprenderam a distinguir
timbres de sons femininos
e, no fim da campanha,
com nada além das palavras
me tornaram um algo deposto

as ordens deram lugar às perguntas
as sentenças se tornaram aflições
os direitos irrefutáveis de ontem
agora os deveres inadiáveis de hoje

e eu
com meu trono invisível nas costas
me descobri exilado ou fugido
em uma terra de culpa, vergonha e silêncio

sem misericórdia

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