chorar e cuspir
vermelho
adornar paredes e lápides
que encarceram casas
ou coisas onde dormir
permanecer atento
vigilante e suspeito
à realidade
à promessa
a um último golpe
acordar
para mais um dia
sem jamais vestir as luvas
pronto
em guarda
para parir mais despedidas
e silenciar essa fome
de leite
ou de mimos
minha poesia
muda
acorda cedo
faz uns ovos mexidos
duas torradas
um chá
admira o dia
ainda existindo
respira fundo
e faz uma sóbria pausa
até eu acordar
creio-me conjurando
magos de frágeis crenças
na mesa
ou foto
pontos distantes
perdidos
fora de foco
sigo reivindicando
todas minhas ausências
de lar,
de cá
de uma vaga ideia
do que tenha sido
um dia
lugar
verbo intransitivo
reflexivo o reflejado,
me encontro
num par de olhos cerrados
ou que também significa
llenarse de manha
principalmente
por las mañanas
ignorando o chão
mirávamos
sempre para cima
a apostar
até também nos tornarmos
resíduos de querosene
pálidas cicatrizes brancas
um corte no azul
dois cortes
um novo tipo de céu
afetado
por futuros
até então
ignorados
pisco
quebro um dedo
perco um dente
rasgo um talo
e a vida passa
teimosa e graciosa
como um par ou
um casal de garças
plainando
por todo o resto
do que sobrou ou
daquilo que creem ver