maritacas acatam
à saudade de ti
os macacos da infância
pedem fotos daí
de manhã
três cafés
anciã
canapés
vida sã
cafunés
hortelã
e tantos pés
lendas, nomes e histórias
boca-russa e saci
farelos da memória
que não deixo cair
num sertão
cafundó
solidão
vem sem dó
tua mão
pão de ló
redenção
minha avó
canção do meu ep paisagem primária
sem perder as fronteiras, esteiras ou bússolas
desejos inanes de convicção
paisagens inúteis por frestas tão frívolas
conhaque, tristeza no prato, ração
na carta que lia morriam suas dúvidas
um despejo, o limite se impunha, o chão
a ira que destila o sangue da víbora
alimenta o orgulho em erupção
promessa vira pressa
indigesta
projeta à garganta
o fel
ruge agora, espanta
qualquer idea de gaiola, desenrola
teu pedaço de céu
cinza
o caminho, a cidade, o destino, uma vírgula
marquizes e esquinas na imensidão
pedras portuguesas respondem tão rígidas
perfurando vidro, pele ou coração
no silêncio dos carros, breve melodia
desvê o olhar tanta repetição
a vista se perde no abismo das dívidas
num vestígio de sonho busca proteção
desenlancha
ganha a manha que reclama
a uma deusa
maior
acolhido na leveza
esquecido da certeza de que
o império do sol
virá
canção do meu ep paisagem primária
ser ar
ser amor
ser américa
bradar, ladrar
pensar
chorar, nunca
no hace falta
estar homérica
ser latina
marchar numa esquina
romper-se em direções
e guiar
chorar e cuspir
vermelho
adornar paredes e lápides
que encarceram casas
ou coisas onde dormir
permanecer atento
vigilante e suspeito
à realidade
à promessa
a um último golpe
acordar
para mais um dia
sem jamais vestir as luvas
pronto
em guarda
para parir mais despedidas
e silenciar essa fome
de leite
ou de mimos
minha poesia
muda
acorda cedo
faz uns ovos mexidos
duas torradas
um chá
admira o dia
ainda existindo
respira fundo
e faz uma sóbria pausa
até eu acordar