amiga
o tempo passou e ainda brota em cada canto
seu nome
em tinta colorida
não falei contigo por medo
confundo facilmente amizade com convívio
e nada mais devo ter em comum com você
te escrevo pra dizer
que conquistei a vida
e que nada me importa mais
que os problemas
soam como sirenes
como sereias
aos meus ouvidos
que não sabem mais reconhecer a sua voz
que não sei seu endereço
e o quanto queria poder visitar algum lugar contigo
seja quem for
só pra um chá
por um inverno
que meu propósito não existe
e que só vivo pra te escrever
em mais uma carta
as pessoas me vêem e me dizem
que nem parece que eu terminei
uma relação tão profunda e tão longa
que eu pareço radiante, leve
e até mais bonito
eu não sei se acredito nisso
que era o que eu precisava pra ser feliz
ou se é porque
todos os dias
uso o sabonete de rosto que ela deixou
pra ver se acaba logo
o amor existe
e não há o que me convença do contrário
mas ele não é uma pessoa, nem um potencial,
não é tópico, trópico, nem tem um pingo de sexual.
ele existe
e se revela
como uma antiepifania que
em vez de se realizar pela repentina resposta genial
se materializa do ar ao você se propor
um momento de confusão
entre
onde termina você
e
começa todo o resto
(por favor,
entre)
se eu me deixar transparecer, me desculpa
é culpa
minha
juro que tento ser tão leve
como o sol nesse frio
seu casaco
que é quase um kimono
de pijama
eu acabo focando muito no que há de mal na vida
e perco o sorriso no desejo
de algo ruim acontecer
essa é a forma que tenho de me forçar
a reagir, me dá a mão
vamos anoitecer
uma estrela
só posso ver uma estrela no céu
a cidade
não me permite mais que isso
é no meio da noite nada mais
que um borrão,
um sorriso,
um desejo