Vaca Profana
'Que vaca egoísta'. É isso, é o que todas somos. Oferecer os braços abertos, sexo quente e um peito saltitante. Se não fosse tão ordinariamente comum, diríamos o quão pequena a vaca egoísta é. Mas ao inferno, nós dizemos da mesma forma. Também porque somos cegas. O umbigo está muito abaixo para se olhar, e cá entre nós, se você também faz parte, sabe que a bunda magra alheia é muito mais interessante de se morder.
Mas uma, uma em cada cem vezes nós choramos. Todas juntas, sem bebida, sem cigarro, sem foda de apoio. Choramos a mediocridade, sonhos não realizados, os quilos não perdidos, os amores desgraçados, a alma empobrecida e a pouca água que nunca é suficiente pra fazer correr tudo que foi visto.
Nos escondemos em nossos buracos, buscamos força no que não existe: a mulher intangível. A gente até jura que não sentiu nada, que 'aquele não era pra ser'. Mas o 'não ser' pesa e o espírito feminino é naturalmente um fardo, que no fim da vida (vivida) já não caminhamos majestosas como viemos, e sim nos rastejamos caminho de volta ao útero, transformando no trajeto cada célula em tristeza, fecundando a terra, nutrindo o ciclo vicioso, mantendo a amargura eterna.