Textos de Bernardo

golpes sobre bigornas

a névoa espessa sobra
da frágua que fui
a forjar novas armas
anêmicas

potências de amor
ou então só morte
em mãos de crianças
maníacas

quão cortantes são as últimas frases?
como afiar as novas primeiras?
eis o fardo de um ferreiro

além do calor:
abster-se da culpa,
das incongruências
e consequências
benzidas no vapor

com fianças

buscar as suas crenças
uma a uma
com o sol de testemunha

levá-las para passear,
um banho,
sair pra pegar um ar

jóias rasas,
moças requintadas
de mãozinhas dadas
todas maquiadinhas
de certezas raras

eu te amo

as sirenes falharam
  o barro desliza
    e a ira leva
tudo

relampejam
as últimas fotos
  você sem olhar pra câmera
e num instante
    bum
  já é ontem

uma outra realidade
    agora escorregadia
  suja e líquida
nos retoma
ou remonta
  não sei dizer
    pois ninguém mais canta

enquanto a lama seca,
a garganta endurece
e o ar se faz em peste

de pó
para o pó
    
ao longo do caminho
muitas serão as frases
confundidas
esquecidas em preces

rumores

qualquer coisa ruidosa
calha em tornar-se
casa
e cozinha
onde comem-se
caldos, cantos, caminhos

impronunciáveis

inventamos tanto
para nos vermos aqui

  facas
  abridores de lata
  isqueiros
  e termos de uso

o domínio de tudo
    todos os sons
    e das palavras
      não pronunciadas

só para nos vermos aqui
a sós
nos mirando em espelhos
de sangue e lítio

feito narcisos
afogando a nós mesmos
tudo aquilo inventado
e tantos outros nomes
para sempre
  velados