Meu mar sabe é teimar.
Bate contra pedras,
dobra suas ondas,
vive em seu fluxo e refluxo
de luta.
A luta contra o que é estático.
Meu mar é a resistência
contra o que é árido,
contra o que é seco,
contra as terras não beijadas
pelas palavras.
Meu mar é mãe do vento,
do carregar que leva embora
todo aquele ar morno de padrão de vida.
o trânsito
o trabalho
o engarrafamento
os ternos
os óculos escuros
Tudo lavado pelo levar da
marítima
astuta
bendita
calma
e doce brisa do meu mar.
Penso no que teria que juntar para te esquecer. Olho pela casa enxergando objetos colecionáveis da nossa história. Percebo que perderia metade da minha biblioteca já que voltei a ler para te impressionar. Você não sabe, mas eu vi seus olhos para aquele seu amigo de São Paulo que te visitou falando dos livros de João Cabral de Melo Neto. Queria aquele olhar só para mim e comecei a ler compulsivamente. Talvez seja necessário até esquecer como se lê, já que até hoje tenho esse sentimento em mim. Pôr-do-sol seria um outro grande problema a se resolver porque qualquer luminosidade já tendendo para o laranja me faz lembrar daquele dia no Parque da Cidade. Falando em cidade, Niterói teria que sumir do mapa. Provavelmente algumas ruas de Friburgo iriam juntas e definitivamente toda Santos e São Paulo. Veja bem, não te esquecer significa evitar uma série crise econômica e geográfica no Brasil. No âmbito internacional, infelizmente perderíamos toda a Espanha e casal nenhum poderia tomar champagne no topo da Torre Eiffel durante o inverno, mesmo que nós nunca tenhamos feito isso. Quantas pessoas também sumiriam? Iria me sentir um homicida compulsivo ao acordar e ver que perdi amigos, familiares, conhecidos e até o cara que pega pão e já te deu uma cantada de pedreiro. Perderia também meu antebraço direito que manchei com tuas memórias e, por consequência, pararia de escrever. Ao te esquecer, perderia toda uma década. Não lembraria da minha primeira vez, dos anos da faculdade, das viagens que fiz. Minha nova lembrança mais recente seria só o final de Digimon. Nem minha formatura na oitava série - veja só que absurdo - eu teria já que você a inundou em fotos com meu melhor amigo na época. Perderia minhas convicções políticas porque não lembraria de nossas discussões e possivelmente me tornaria um direitista. Pergunto-me se eu leria a Veja. Mas, em algum momento, sei que veria seu nome sob o título de grandes reportagens dos grandes jornais. Mas, pensando bem, já teria desaprendido a ler mesmo, então esse item não faria a menor diferença. Desaprenderia a tocar violão, fazer pizza e beber vinho. Não poderia ouvir música de qualidade já que você levaria embora todos os bons versos e até no ruim que sobrou eu teria que ser seletivo dado o seu peculiar gosto pelo tecno brega e Valesca Popozuda. Talvez eu tenha que esquecer a minha avó por saber que a última lembrança que tenho dela é a de você a alimentando no hospital. Paro de pensar e realizo que ficaria sem nada se tivesse que te esquecer. Sobraria bastante da infância, um paraíso ainda não tocado por você. Percebo isso tudo e desisto de te esquecer. Percebo que é melhor viver o nada de não te ter cheio do tudo que me lembra você. Percebo que só queria poder esquecer de te esquecer.
eu
eu
eu
eu
miragem
miragem
nós
vertigem
vertigem
eu
eu
eu
eu
no es la luz lo que importa en verdad
volto de uma das minhas voltas de skate de madrugada.
furei todos os sinais vermelhos esperando um choque na contra-mão.
estava ouvindo um rock qualquer.
os carros não vieram.
vieram só uns power chords
e meu grito.
nas métricas dessas vidas
por entre versos
entre você e ele
e eu
sempre há de se ver
algum de nós
sozinho
como uma pequena estrofe
faminta
perdida
ímpar