Hortinha
Escrevi teu nome
num grão de arroz.
Plantei teu nome
no pote de algodão,
juntinho do meu
num grão de feijão
para vingarmos juntos,
saciar essa fome
grande da saudade
de sermos nós mesmos.
Escrevi teu nome
num grão de arroz.
Plantei teu nome
no pote de algodão,
juntinho do meu
num grão de feijão
para vingarmos juntos,
saciar essa fome
grande da saudade
de sermos nós mesmos.
para toda a pressão
do por vir
dessa manhã escura
sem vontade
brincas com pílulas
de conversas
prometes tua imagem
bem borrada
entre um café e outro
pão na chapa
conto as vezes em que te vi
como quem conta histórias da infância
da minha terra
da sua adolescência
conto as vezes em que te vi
feito carmelita nas contas de terço
em êxtase com a reza de agora
na agonia da benção da próxima prece
conto as vezes em que te vi
nesses quatro poemas vermelhos
de uma manhã cinza
sem a paz dos dias que não te conheceram
conta a única vez que te vi
reduzindo-a em aurora
espalhada em tua imagem pela manhã
por conta dos sonhos da última noite
você vira as costas
sorrindo pra me fazer esquecer
que te vi chegar
com medo de fechar a porta
Quando nasci, um anjo reto
desses de grandes auréolas
tentou me avisar: Vai, Bernardo! Respire!
Deus cortou-lhe a língua.
O anjo emudeceu e não disse nada.
Olhou-me nos olhos e
depois de meu berro romper o mundo,
lágrimas romperam-lhe a face.
Chorou mudo
lágrimas vermelhas
protegidas pela placenta.
Meu mar sabe é teimar.
Bate contra pedras,
dobra suas ondas,
vive em seu fluxo e refluxo
de luta.
A luta contra o que é estático.
Meu mar é a resistência
contra o que é árido,
contra o que é seco,
contra as terras não beijadas
pelas palavras.
Meu mar é mãe do vento,
do carregar que leva embora
todo aquele ar morno de padrão de vida.
o trânsito
o trabalho
o engarrafamento
os ternos
os óculos escuros
Tudo lavado pelo levar da
marítima
astuta
bendita
calma
e doce brisa do meu mar.