O tempo passa
para esse navio cruzando a baía.
O tempo passa
nessa canção que está pra acabar.
O tempo passa
página a página do caderno novo.
O tempo passa
para o rapaz a correr pela areia.
O tempo só não passa
lá em casa
com o relógio da cozinha
parado
sem pilha sem vontade
marcando a hora de um tempo
passado
teu.
Por favor, alguém me faz entender,
quanto barulho pode fazer
um pequeno pé de feijão?
Mesmo só semente
já a imaginamos árvore
nos levando a crescer
acerca de si mesma,
colhendo os frutos de suas descobertas.
Pau-brasil, jacarandá ou bambuzal do Anchieta
é o que queremos ter em vida,
em sua vida
pequena e já tão grande,
sem nenhum risco de extinção.
O pai e o Fluminense,
a mãe e o Fluminense,
ela e, inexoravelmente, o Fluminense.
Os tios e os sorrisos bobos
em troca dos seus sorrisos bobos
fazendo-os perceber o quão a vida é tão boba.
Avós são as pitadas de açúcar
confeitando mais uma maria mole
embalada em braços, por vez, delas.
Os três avôs, tons descompromissados
necessários a toda criança
crescida nessas casas.
Maria ainda virgem,
por sempre imaculada,
já por sonhos embalada
para por fim às vertigens.
Por favor, alguém me faz entender,
quanto barulho pode fazer
um pequeno pé de feijão
aqui no meu coração?
A cor do fim do mar
era branco marfim.
A areia toda feita
de balas de festim.
A onda que dobrava
era a asa de um querubim.
O vento de lá tocava
um choro de botequim.
Não tinha um quê de sol
nem da índia tupiniquim.
Afundei o grande mar,
mar gigante sem mim.
Enquanto uns falam do ano novo,
eu falo de amor.
Enquanto uns lembram o que é mofo,
eu falo de amor.
Enquanto uns sonham com o que vem,
eu falo de amor.
Enquanto uns desejam o que não tem,
eu falo de amor.
Enquanto uns bebem champagne,
eu falo de amor.
Enquanto uns procuram com que se banhem,
eu falo de amor.
Enquanto uns pensam em mal agouro,
eu falo de amor.
Enquanto uns pensam em juntar tesouro,
eu falo de amor.
Enquanto uns pulam sete ondinhas,
eu falo de amor.
Enquanto uns pensam em palavras minhas,
eu falo de amor.
Enquanto uns falam à Iemanjá,
eu falo de amor.
Enquanto uns usam calcinhas rosas a decorar,
eu falo de amor.
Enquanto explodem,
eu falo de amor
atemporal
escrito na rolha de um espumante
pronto para ser lançado
ao teu mar.
não sei se me falha o respirar
ou é só o gosto deste ar cinza
não sei onde terminam as lágrimas
e onde começa a garoa em meu rosto
já não sei se tenho
tristeza
ou São Paulo
demais
dentro de mim