Textos de Bernardo

Boa Noite

Em todo o meu canto
só sei letrar teu nome
e onde antes era só pranto,
hoje vive nosso pronome.

Nos amamos,
nos cantamos
nesse poeminha de dormir
até o amanhã vir eclodir.

Roupa Nova

a ausência mora nos detalhes
  ligar o ar condicionado
  fechar as cortinas
  apagar as luzes
nessa rotina de toda noite
a ausência já fez moradia
  própria

o tudo que persistiu
  esse espólio de guerra
  dentro de casa
é assinado pela tua falta
  menos essa camisa nova
  que precisei comprar
  quando estraguei a que me deste
    lavando-a com água sanitária
    no tanque da cozinha

Terça-feira

coleto provas de que hoje estou
vivo

essa dor no corpo
  de atleta das madrugadas
esse carpete na língua
  borrado das cinzas do cigarro barato
são evidências de que aqui
  nesse espaço-tempo
  separando a cama do banheiro
ainda existo
  ainda que apático
    sobrevivo

existo
zonzo com a obrigação
de começar a semana
  de novo

sem seus óculos
sem meu engov

Felicidade de Domingo

A solidão é expurgada
pelas suas unhas
cravo a cravo
espremido das minhas costas
por fim limpa.

- Doeu?

Física (Ou Falta de Química)

minha velocidade é constante:
três decepções
  amorosas ou não
por hora