Não vou mentir que penso em você sempre e sobre o que poderíamos ter feito ou não, dado certo ou não, sobre o mundo inteiro que tínhamos nas mãos e parece que jogamos tudo pela janela.
Não posso nem dizer que foi só você que fez isso, talvez eu também tenha feito algo que impediu nós dois de termos dado tão certo quanto deveríamos.
O que mais me dói é a saudade que tenho do que poderíamos ter sido. Você era a pessoa perfeita para os meus planos de hoje, a pessoa que você vendeu pra mim, a que talvez você realmente nem seja, mas caramba como você vendeu bem esse sonho pra mim.
Engoli sua corda, seus sonhos se misturaram com os que já passeavam em mim e me vi finalmente depois de tanto tempo, com uma pessoa que poderia me acompanhar, sem que eu tivesse que abrir mão dos meus próprios sonhos.
Tínhamos tudo pra andar em paralelo, juntos, porém livres. Mas seu medo foi bem maior do que a vontade de dar certo com alguém. E olha que eu nem sei se foi realmente medo, tô só supondo o que o meu ego justifica pra mim, para o fato de você simplesmente não querer ser meu parceiro de viagem. Provavelmente eu nunca vou saber o que realmente aconteceu.
Eu acho que a graça de nós dois, é que eu nunca vou saber o que tu pensa, o que tu quer, quem tu vai ser amanhã, tu é a grande dúvida que eu encontrei pra mim, que ao mesmo tempo me fortalece.
O que eu sempre achei que seria motivo de preocupação, não saber o que esperar de quem se ama, na verdade me mostrou que amar é só gostar mesmo, sem me preocupar com nada. Eu percebi que não preciso saber de nada, não preciso esperar nada, que gostar é sobre você, não sobre mim. Gostar de você e te amar, é uma afirmação universal que você deve ter feito alguma coisa muito certa e legal, pra que uma pessoa (no caso eu) goste de você tanto assim.
Se eu não sei lidar com o fato de que esse sentimento não é recíproco, é um problema totalmente meu. Não seu. De seu, só esse texto cheio de vocês, tus e eus.
Eu deveria só te mandar as coisas boas boas que sinto, mas é que as vezes é muito difícil deixar a pessoa livre, liberdade dói muito em quem não a tem.
Eu realmente não sei de nada sobre o amanhã, gostaria que fosse verdade as afirmações de "Acredito que ficamos juntos no futuro" "acho que sejamos amigos" ou qualquer suposição positivista sobre a gente, quando na verdade eu num sei de caralho nenhum do amanhã e essas probabilidades só me geram ansiedade.
Só espero que você fique bem, de verdade.
Independente do novo dia que chega.
Você me ensinou mais sobre mim, sendo você mesmo, do que eu jamais aprendi sozinha.
Preciso de um tempo longe de você, meu coração não aguenta ser tua amiga agora, ser teu "quase".
Ainda tô em processo de cura. Você foi o Merthiolate de uma ferida muito profunda que se abriu alguns anos atrás, mas já tá quase fechando. Tá na fase da coceira, tá colando, vai ficar bom...
Eu consigo ver a carne fechando e fazendo pele de novo.
Mas ainda tá sensível.
Razão,
Você disse de primeira que detestou que eu te chamasse de razão, achou um apelido bobo, porque eu te expliquei na hora que era ~razão da minha vida~ e que também era porque você só queria ser ~dono da razão~ e como eu gosto de te ver aperriado.
Na verdade eu nunca te contei que eu te chamo de razão na verdade, porque eu acho que você é a razão pra mim, de muitos momentos importantes. Tu nem imagina, quantas terapias solitárias eu fiz na minha cabeça, deitada no teu ombro, enquanto a gente dorme de costela e eu reclamo sozinha que eu não tenho mais idade de dormir em cama de solteiro. Mas no final é ali que eu adormeço bem e acordo feliz.
Porém toda essa felicidade não consegue amenizar que tu é incômodo. Pra caralho!
Incômodo de dentro pra fora, tua chatice me incomoda nas entranhas, incomoda porque eu te escuto, incomoda porque por mais bizarro que você pareça ser e mais errado ainda como você se expressa, com esse jeitinho anti social que só tu tem, eu te entendo.
E eu fico sem saber como reagir, porque eu te entendo tanto que isso as vezes me constrange, já que tu é tão diferente. Você quebrou minhas pernas, roubou meu sono e me deixou sem chão.
E o pior é que eu menti quando disse a você que não sabia porque eu gostava de tu. Eu sei. Eu sempre soube.
Você com todo seu caos, me traz paz, me traz vontade de me acalmar, até cogitar falar mais devagar e mais baixo.
Acho que deve ter alguma parada ai de auto (re)conhecimento em querer ser entendida.
Sempre quis ser entendida, mas ninguém me disse o porquê que não estava dando certo, talvez seja essa questão de falar mais devagar e mais baixo novamente.
No alarde, ninguém escuta ninguém. Na gritaria, ninguém entende o outro. Você me ensinou isso, lembra?
Quando tu tá presente, me faço calma, me dá vontade de não falar, sinto que contigo, eu sou entendida sem precisar falar muita coisa. Na verdade sem precisar falar nada.
Eu gosto do fato de você apreciar meu silêncio e não de não me incomodar pra que eu fale.
Não me sinto pressionada por você.
Nesse ano eu percebi que tem muita gente responsável pelas minhas cicatrizações, você cicatrizou a minha paz interior.
Tá certo que de uma forma bem não ortodoxa, mas cicatrizou. Você me fez ter vontade de dividir a vida com alguém novamente. Quando falei isso pra ti, pensasse logo que era com você que eu queria isso. Talvez até fosse você, num futuro bem distante, mas não agora, foi o que eu tentei explicar, que com você eu percebi que dá sim pra voltar a se relacionar sem me sentir invadida, sem me sentir desrespeitada como tantas vezes achei que fui.
Sou apaixonada por você, do jeito mais infantil e bobo possível, daquele jeito que gosta de ficar perto e me pego olhando pra tu com cara de otária, mas no fundo, sei que o que eu tô sentindo tem muito mais fundo e importância por dentro, do que além de fato de que eu só gosto muito do cheiro da tua barba.
Eu só não te digo essas coisas sempre, porque nunca acho que tu escuta depois de 1 minuto de fala ou de 4 linhas escritas. E tá de boa, eu gosto de você sendo assim mesmo.
A gente vai ficar bem.
Embora eu ainda me arrepie de saudade, vai chegar uma hora que vai ficar tudo bem.
esses caracteres em um papel não sabem nada de quem os carrega. determinam horários a serem seguidos, portões a serem encontrados, poltronas a serem ocupadas. números, letras, horas. caracteres frios que definem pontos iniciais e finais sem saberem do que há de mais importante. há sempre o caminho. as passagens aéreas são insensíveis por não saberem nunca dos encontros e partidas que carregam em si mesmas. são meros pedaços de papéis que fornecem a entrada para os sonhos ou a saída dos mesmos. essa poltrona 23a nunca saberá o que carrego no peito. este vôo de quatro números que não consigo decorar mal sabe de outra importância sua que não a linha reta entre recife e rio sem escalas. seguimos para a fila de embarque com uma calmaria incoerente para este horário da madrugada. em minha frente há tantos futuros a serem construídos e atrás de mim, tantos passados a serem esquecidos. me situo num ponto cego que abandona um presente ideal num táxi qualquer e segue esperançoso pelo carinho de um pacote de amendoins. não indiferente, apenas positivista. minha identidade encardida e uma mochila carregada de bolos de rolo são o que o mundo acha que carrego comigo. há, no entanto, a bagagem invisível repleta de sentimentos que fugiram ao check-in com a moça simpática. embarco como um terrorista. granadas de saudades implosivas, pólvora espalhada pelos lábios. minha carteira não me denuncia em nada e, agora, a apatia e indiferença do meu bilhete compensam por não levantarem suspeitas. dou um boa noite sem graça. vejo da janela pequena as luzes da pista, do aeroporto, do bairro, da praia. as luzes que só eu vi. penso em dormir, mas prefiro ver a cidade se afastar.
Você me abre a porta e já me sabatina:
- Que te parece essa música?
- Você tá me julgando?
- Isso me faz gay?
Um sorriso mole, a camisa meio suja e um beijo molhado. Teus cachos se entrelaçam na minha franja e eu já me perguntando "que diabos eu tô fazendo aqui?"
Menos de meia hora e já uma explosão: reclama do comprimento do próprio cabelo, fala do trabalho, revive viagens, comenta passagens do escritor peruano, lembra de algo e corre pela casa pra me mostrar entre sorrisos tortos e olhares de dúvida. "Ela me entende?". Tento te acompanhar e cito duas músicas e já me emenda outras sete. Comento meu escritor favorito e lá vai você, lembrar da última vez que tomaram cerveja em Nova York e você encheu o velho de entorpecentes.
Eu me canso.
Sou sempre o lado pesado da balança, mas contra você, amigo, sou peso pena.
Quando dou por mim, me arrasta pra cama e sussurra desejos, sonhos de noites passadas, palavras de escárnio mescladas com doçura. Me domina, corpo e voz. Quando termina me chama de louca, louquinha, pirada. "Tá aqui só pra me enlouquecer, é?". Quero dizer que sim mas quero fugir. Você me cansava. Três horas contigo era de um esforço que poucos sobrevivem. Me levanto para um cigarro, reflito antes na sua estante, talvez meu maior fetiche, e vejo sua foto com seu filho. Ali sua robótica de gênio esquizofrênico se esconde, morre, desfaz. Ali é um sorriso (ainda torto), o menino nos braços e a grama verde verdinha do parque. Minha mente viaja. Penso na mãe, penso na gravidez, penso se houve casamento e começo a cantar Rubel baixinho. Eu sempre escutei Rubel pensando em você, porque eu sabia que nunca daria certo, como não deu, mas eu pensava "eu sei vai dar errado, a gente fica longe e volta a namorar depois". Um presságio, meio vontade, meio ojeriza.
Você surge do seu quarto, meu casaco nas mãos e um bocejar nos lábios. "Babaca", eu penso. Uma coisa é eu querer ir embora, como já queria, outra coisa é você me tocando daqui.
"Babaca, babaca, babaca".
Mal vejo meu pequeno prédio numa rua vazia em casa, uma mensagem. Outra no dia seguinte e mais uma na manhã que vem. "Foi a última vez", me repito. "Chega, chega!".
Uma cerveja e um desabafo entre amigos.
Duas e "não fode" vira "talvez talvez".
Na terceira te ligo. "Vem, minha linda, pode vir."
- Que te parece essa música?
construo um passado em uma velocidade de oitocentos quilômetros por hora para a moça de biquíni que só vê o ponto que me transporta no céu se movendo lentamente. cada respiro das turbinas me coloca em um futuro linear, semeando o passado com o rastro do avião para deixar florescer sentimentos. na medida que chegam novos fatos, os mais antigos se colocam ainda mais distantes e a luz de suas memórias segue se ofuscando. lembrar de algo, de alguém, é como olhar para uma estrela. o brilho que permanece é o brilho dos sentimentos que perduraram perante a passagem do tempo e guardam distância da existência concreta do que foram. é como a luz da estrela sendo sempre o passado e nunca o que se é de fato no presente. possivelmente o passado de um corpo celeste já morto no presente. nossas memórias, nossos carinhos por nossas memórias, formam nossas próprias constelações. se o universo cósmico está em constante expansão, também assim se encontra o meu - particular, por sua vez - se expandindo com o auxílio de um boeing. meus corpos celestes emanam luz sob a forma de palavras. sou um sol que define seu espectro através da escrita. me torno fácil de ler, de perceber através das variações de adjetivos, substantivos e outras classificações que já não me lembro. minha matéria é a matéria das estrelas. minha matéria é a poesia. a poesia muda minha densidade, me torna translúcido e só assim posso perceber como a refração causada atinge o rosto da senhora bonita por entre o espaço das duas poltronas da frente. ela não sabe do roubo de um pouco de sua luz por estas frases. escrevo agora as palavras emanadas por ela através de sua elegância, avidez e ternura denunciadas por seus olhos enquanto lê versos de manoel de barros. gostaria de dizer que me chamo bernardo. que há uma constelação dentro de mim. que há uma galáxia dentro dela. que nossos campos gravitacionais se aproximam. ela lê manoel de barros e eu me chamo bernardo. talvez o universo tenha começado assim: explodindo a partir de um verso de manoel de barros.