cravejados sob meus pés
fragmentos pontiagúdos
da sua última declaração de amor
sílabas estraçalhadas
numa curva qualquer
das memórias daquilo que pensávamos ser
o sol a pino
cega com o brilho
dos destroços da sua voz vidro
o motor-cabeça, desligo
e sigo
em algum caminho
sem notar minhas pegadas de sangue
invento da sobrevivência
algum tipo de brio
frio
enquanto de mim
formarem-se sombras,
encerarrei por fim
uma verdade
uma cova me cativa
um buraco negro
que me convida
cava em mim
uma cama de calor
um vazio de terra
essa ilusão de chama
que me cobre
e me cega
ausculto
pelas poucas frestas
um caos dissonante
em céus distantes
de onde corvos e gralhas
desistem de migrar
silenciosos
e hesitantes
o passado
não passa
gruda, cola
feito graxa
não caibo em nada
e quase nada
cabe em mim
acabo ilhado num fim
sem letra, sigla ou língua
que dê cabo ao que passo
sozinho
acato este espaço novo
e perdido me acanho perante
o estorvo
entre o encanto e o estranho
me esqueço da palavra
socorro