não há o que
dissolva esse aperto
no peito
já tentei me benzer
já tentei me sedar
e até dançar
a noite inteira
em outros corpos
mas continuo dançando
- vai que um dia
você deixa de ser anônimo
pra alguém
nessa pista de dança?
a tosse dela era o meu motivo de sorrir
todos os dias a via pela janela usando
o vaso de cacto como cinzeiro
era bailarina
da minha sala
caixa de música
que embalava
meu sonho.
eu esperava maior desespero dessa
noite que não acaba
nunca
e não há mão de
berço que embale
essa história
porque sem
alguém a balada da
noite é vazia.
ela levantava suavemente,
tentando não me acordar ao
pegar os pratos e levar pra cozinha
sorrateira
mas dessa vez eu abri os olhos
pra vê-la
surpresa vestida com minha camisa de golfinhos
e a surpresa foi minha
pela violência e gentileza
de seu fantasma
um corredor
vazio na
penumbra
um fantasma seu me
assusta
alegra e eu
desgovernado ligo a luz
em um suspiro
nada mais é confortável e
tudo é calmo
demais pra nós
três