Palhaço

acho
tão engraçado
quando o corpo
fala,

a alma
cala

e o tempo
para:

acho tão engraçado
quando o beijo
não une,

só separa.

estrela cadente

  uma estrela
só posso ver uma estrela no céu
  a cidade
não me permite mais que isso
é no meio da noite nada mais

que um borrão,
um sorriso,
um desejo

evolução

hoje me despedi
do grande elefante branco
agarrei suas orelhas
abracei seu pescoço e
desfilamos pela avenida
acenando para a vida
pessoas a esperar o ônibus
não entenderam nada
vendo-me cair de costas
quebrar duas costelas e
por fim me por a chorar
de tanto gargalhar
ao perceber que no chão
só havia um pouco mais
de chão
de nada mais

conviver comigo

a glória da minha maturidade chega tão cheia de
nada mais que o jeans em cima da cama
o resto do cigarro no cinzeiro sujo
música alta com dança lenta
banheiro de porta aberta
o lado da cama
vazio
e eu
.

libertinagem

confessa pro padre
no pé do ouvido
do confessionário

na cama teu corpo
contato marcado
mais um funcionário

gastando caminho
no nojo amargoso
daquele salário

forjando em copos
tristes sinfonias
feito um canário

quais são suas loucuras
guardadas e castas
em teu relicário?

confessa pro padre
depois vai, volte a ser
pecador libertário