fim

a terra
seguirá
as partículas
seguirão

a memória
aventura-se
em não ser
nem carbono
nem nada

uma variável
longínqua
numa teoria do caos
não matemática
não unitária
naturalmente
inválida

nova era

a nova era
ia e vinha
ontem
hoje
já era
e vai e vem

o velho conservador
de orgulho atento
feito joguete de ioiô
clama um verno tempo
  de foguetes
  de tédios
  de ignorâncias
  de sangues
de tudo
em nome de si

letargia

o mundo
de páginas em branco
e tinteiros em seca
esgotados pelos absurdos
escoando, surdos,
meus medos

não registrarão mais
os pousos dos últimos pássaros turdos
a vontade de triângulos curvo-turcos
os mistérios dos oceanos turvos
qualquer resultado de turno ou returno

pois surgirão só
em sonhos
sistematicamente sonegados

pelo mundo
de páginas em branco
e tinteiros em seca
esgotados pelos absurdos
escoando, surdos,
meus medos

negacionismos

quando o mundo acabar
será um carnaval
real

num último brinde
a letal risada de disparate
antes que tudo finde

migrante

num bosque
de egos silenciosos
por entre os arbustos
me escapo

no anseio por sons
e agraciado de asas,
caço os pássaros
da serenidade
que batem em revoada

migram para um sul impossível
para um fim
somente plausível
em bando
e sem mim