a cabeça
rolando
momentum contínuum
você lembra daquela libélula?
rolante da escada
os pensamentos
pisados e amarelos
ralando nos pelinhos laterais
coragem rente à água
rolando
tropeçando em pescoços
pensamentos se repetem
sobem e descem
o rolante da escada
mergulhos e desafios à liberdade
do lado esquerdo
tropeça mais um
pensamento de que?
o rolante da escada
ralhado pelo pelinho
subindo e descendo
a inveja das asas pelo chão
o pensamento
engargalado
na saída reta
da escada rolante
nem sobe e nem desce
permanece
no degrau que volta pra dentro
e se perde
você lembra daquela libélula?
de vez em quando, me deixo absorver pela escuridão
ela não é fria, ou morna,
ou assustadora
toco meu rosto, meu peito, com a ponta dos dedos,
livre de qualquer julgamento ou consciência
não sou mais um animal,
nem sofro ou sorrio ao ver as memórias
que desfilam, sem ordem e contexto,
sem pretensa de verdade
não sou liberto nem presidiário
não sou problema ou solução
até o momento em que involuntariamente
parte de mim tateia a luz remanescente
a humanidade e o clarão
a nova, a refeita, realidade
sete silêncios
me prendiam
a voz que cria
os barulhou
um
a
um
até sobrar o maior de todos
eu
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a hipocondríaca síndrome
de varandas gourmet
curando a fobia em ser assistido
por ninguéns
a segurança das lágrimas do lar
escondem um fracasso
exposto e esmagado
pelas horas do rush públicas
o pão e o vinho na santa ceia urbana
ter e possuir
garantem não mais a salvação,
mero detalhe cristão
o perdão maior numa metrópole
é exonerar-se do outro
do roubo
do novo
do gozo
encarcerar-se em grades
blindar-se em vidros
resguardar-se em modas
tornar-se, enfim, propriedade e
cidadão
- eventualmente de bem -
propriamente dito
e adquirido
[dos lados de fora
o eterno sonho do carnaval
a nos velar]
ilhados em silêncio,
nós dois perdidos
num mar de táxis amarelos
o emprego de navegantes
abrindo novas feridas
jorrando um sangue vivo
coagulando-se só quando em paz
a fuga
o silêncio hemorrágico
em seu fim
nos cruzamentos dos olhares
os faróis da compreensão
se acendem e iluminam
a calmaria que nos permite velejar
por novas promessas
afluir por nosso mar
seguir às casas que inventarmos
para sempre curandeiras
de nossas dores e desejos