Poema com Fome
poesia
coisa
que se alimenta
de si mesma
e a mim
com gosto de
danoninho
aos sete anos de idade
poesia
coisa
que se alimenta
de si mesma
e a mim
com gosto de
danoninho
aos sete anos de idade
elas voltaram
as palavras voltaram
servidas por garçons que não conhecia
numa temperatura ambiente
em seu malte puro
com três cubos de gelo
e três sorrisos acompanhando
por um ano
te amo
durmo de conchinha
com você
solidão
beijos na nuca
afagos
coisa e tal
te amo sim
mas só por um ano
depois do carnaval
Trôpega Lapa,
sinto-me imerso dentro
desses corpos tortos
encontrando-me em mim mesmo.
Sonora Lapa,
você que já não rima mais
em nenhum samba canção
quando a luz do poste apaga.
Catedrática Lapa,
aprende-se física nas tuas ruas
na ação-reação do cassetete
para dois corpos ocupando o mesmo lugar.
Real Lapa,
toda sua poesia jogada, perdida.
Uma delas passa correndo
levando embora um celular e um encontro.
Viva Lapa,
essa que sempre furta
uma lapa de mim pela noite e a deixa
sob seus arcos feito oferenda.
Querida Lapa,
como é bom o reencontro,
como é bom estar em casa e
deitar na tua cama.
Todo dia
às zero horas
reaprendo a lição:
é fácil ser solar e
digerir o dia exposto
por aquela luz fertilizante,
astro rei de súditos mecânicos.
Agora, para a noite,
bem, para a noite é preciso ter
estômago e coragem,
é preciso saber enxergar na penumbra
os detalhes nus
onde para os olhos desavisados
só existe
o todo negro e escuro.
Para noite é preciso saber ler
nas entrelinhas.